Cidade de 15 Minutos: utopia ou tendência real do urbanismo moderno?

O conceito de cidade de 15 minutos propõe que todas as necessidades do cotidiano — como trabalho, escola, comércio, saúde, lazer e áreas verdes — estejam localizadas a até 15 minutos de caminhada, bicicleta ou transporte público, a partir da residência. Idealizado pelo urbanista Carlos Moreno em 2016, o modelo valoriza o crono‑urbanismo, priorizando o tempo e a proximidade sobre distâncias físicas

7/29/20253 min ler

O que é "cidade de 15 minutos?

Zayda Dinoah Carvalho

Especialista Imobiliária

Publicado em 02/08/2025

O conceito foi popularizado pelo urbanista franco-colombiano Carlos Moreno, que defende um modelo de cidade onde os moradores possam acessar todos os serviços essenciais em até 15 minutos de caminhada ou pedalada. Essa ideia nasce como resposta a décadas de planejamento urbano centrado no carro, que gerou cidades dispersas, congestionadas e emocionalmente desgastantes.

Mas a cidade de 15 minutos é mais do que proximidade física — ela representa uma nova lógica de tempo urbano: menos deslocamentos longos, mais convivência e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Esse modelo se apoia em quatro pilares:

  • Proximidade (trazer as funções urbanas para perto das pessoas),

  • Diversidade (mistura de usos: habitação, comércio, serviços e lazer),

  • Densidade equilibrada (para viabilizar a economia local),

  • Mobilidade ativa e sustentável (andar a pé, de bike ou transporte coletivo eficiente).

Onde o modelo já está sendo colocado em prática

A cidade de 15 minutos deixou de ser apenas teoria para se transformar em realidade em vários lugares do mundo — cada qual adaptando o conceito à sua própria dinâmica urbana.

Paris, sob o comando da prefeita Anne Hidalgo, é o exemplo mais emblemático. Lá, foram investidos bilhões de euros na ampliação de ciclovias, na criação de ruas compartilhadas, e na descentralização de serviços para reduzir a dependência do transporte motorizado. Escolas, mercados e postos de saúde foram reposicionados com base no conceito.

Barcelona criou os “super-blocos”, áreas de nove quarteirões onde o tráfego de carros é limitado, e o espaço é devolvido às pessoas, com praças, vegetação e lazer.

Melbourne adotou o termo “cidade dos 20 minutos” e redesenhou bairros para oferecer acesso local a infraestrutura básica, priorizando a conexão entre comunidades e a saúde urbana.

No Brasil, o avanço é mais pontual. Cidades como Curitiba, Fortaleza e São Paulo têm implementado políticas de mobilidade ativa e desenvolvimento urbano integrado, mas enfrentam o desafio da desigualdade: nem todos os bairros contam com os mesmos serviços ou infraestrutura. Em São Paulo, por exemplo, enquanto regiões centrais se aproximam do modelo, áreas periféricas continuam dependentes de longos deslocamentos diários.

Os desafios de implementar uma cidade “de bairro completo”

Embora seja um modelo promissor, implementar a cidade de 15 minutos exige enfrentamento de desafios estruturais e culturais. Um deles é a distribuição desigual de serviços nas cidades. Bairros mais periféricos, onde vive a maior parte da população de baixa renda, ainda carecem de saúde de qualidade, escolas, empregos e opções de lazer. Sem resolver essas lacunas, o modelo pode acabar beneficiando apenas áreas mais ricas, aprofundando desigualdades.

Outro obstáculo está na mentalidade urbana construída em torno do carro. Muitos habitantes resistem à ideia de depender menos do automóvel, mesmo que isso signifique uma vida mais lenta e conectada. Essa resistência apareceu inclusive em países desenvolvidos, como Inglaterra e EUA, onde planos de cidades de 15 minutos foram alvos de teorias conspiratórias — alegando que o governo queria "controlar o direito de ir e vir".

Além disso, a viabilidade econômica de pequenos comércios e serviços locais também precisa ser levada em consideração. Para que o modelo funcione, os bairros precisam ter densidade populacional suficiente para sustentar farmácias, padarias, mercados e centros de saúde. Isso significa repensar o zoneamento e permitir uso misto dos solos, algo que muitas legislações municipais ainda dificultam.

Leia o artigo completo em: https://shre.ink/tPL5

O impacto no mercado imobiliário.

O conceito vem transformando também a forma como as construtoras, incorporadoras e investidores pensam seus projetos. Empreendimentos que se conectam com essa lógica de proximidade e multifuncionalidade têm ganhado valorização e atenção — especialmente entre o público jovem e urbano, que valoriza tempo, bem-estar e sustentabilidade.

Isso abre portas para:

Lançamentos com uso misto (residência + serviços + lazer no mesmo complexo);

Criação de condomínios-clube com centralidade própria, capazes de atender boa parte das necessidades do dia a dia sem sair do bairro;

nvestimentos em mobilidade interna (bicicletários, compartilhamento de veículos elétricos, calçadas largas e acessíveis);

Comunicação mais forte com termos como "caminhabilidade", "bairro inteligente", "tempo de qualidade" e "infraestrutura de proximidade".

Mais do que uma tendência, a cidade de 15 minutos pode se tornar um diferencial competitivo. Incorporadoras que entendem isso estão mais preparadas para desenvolver bairros vivos, conectados e sustentáveis — e para dialogar com um novo perfil de consumidor, mais atento ao bem-estar do que à metragem.