Cidade de 15 Minutos: utopia ou tendência real do urbanismo moderno?
O conceito de cidade de 15 minutos propõe que todas as necessidades do cotidiano — como trabalho, escola, comércio, saúde, lazer e áreas verdes — estejam localizadas a até 15 minutos de caminhada, bicicleta ou transporte público, a partir da residência. Idealizado pelo urbanista Carlos Moreno em 2016, o modelo valoriza o crono‑urbanismo, priorizando o tempo e a proximidade sobre distâncias físicas
O que é "cidade de 15 minutos?
Zayda Dinoah Carvalho


Especialista Imobiliária
Publicado em 02/08/2025
Onde o modelo já está sendo colocado em prática
foto: https://shre.ink/tPLK
Os desafios de implementar uma cidade “de bairro completo”
Embora seja um modelo promissor, implementar a cidade de 15 minutos exige enfrentamento de desafios estruturais e culturais. Um deles é a distribuição desigual de serviços nas cidades. Bairros mais periféricos, onde vive a maior parte da população de baixa renda, ainda carecem de saúde de qualidade, escolas, empregos e opções de lazer. Sem resolver essas lacunas, o modelo pode acabar beneficiando apenas áreas mais ricas, aprofundando desigualdades.
Outro obstáculo está na mentalidade urbana construída em torno do carro. Muitos habitantes resistem à ideia de depender menos do automóvel, mesmo que isso signifique uma vida mais lenta e conectada. Essa resistência apareceu inclusive em países desenvolvidos, como Inglaterra e EUA, onde planos de cidades de 15 minutos foram alvos de teorias conspiratórias — alegando que o governo queria "controlar o direito de ir e vir".
Além disso, a viabilidade econômica de pequenos comércios e serviços locais também precisa ser levada em consideração. Para que o modelo funcione, os bairros precisam ter densidade populacional suficiente para sustentar farmácias, padarias, mercados e centros de saúde. Isso significa repensar o zoneamento e permitir uso misto dos solos, algo que muitas legislações municipais ainda dificultam.
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O impacto no mercado imobiliário.
O conceito vem transformando também a forma como as construtoras, incorporadoras e investidores pensam seus projetos. Empreendimentos que se conectam com essa lógica de proximidade e multifuncionalidade têm ganhado valorização e atenção — especialmente entre o público jovem e urbano, que valoriza tempo, bem-estar e sustentabilidade.
Isso abre portas para:
Lançamentos com uso misto (residência + serviços + lazer no mesmo complexo);
Criação de condomínios-clube com centralidade própria, capazes de atender boa parte das necessidades do dia a dia sem sair do bairro;
nvestimentos em mobilidade interna (bicicletários, compartilhamento de veículos elétricos, calçadas largas e acessíveis);
Comunicação mais forte com termos como "caminhabilidade", "bairro inteligente", "tempo de qualidade" e "infraestrutura de proximidade".
Mais do que uma tendência, a cidade de 15 minutos pode se tornar um diferencial competitivo. Incorporadoras que entendem isso estão mais preparadas para desenvolver bairros vivos, conectados e sustentáveis — e para dialogar com um novo perfil de consumidor, mais atento ao bem-estar do que à metragem.